tesouros de plástico #02

Thursday, March 26, 2009
Posted by UD

o barulho de vidro quebrando rompe o silêncio de uma manhã cinzenta em um bairro arborizado da cidade.



o som de risos e passos afobados o seguem, preenchendo o ambiente repleto de neblina e pouco povoado do subúrbio.


Jonas e mais três amigos correm rua abaixo, descendo uma pequena ladeira, ele com um pesado rádio de carro nas mãos, a adrenalina encharcando suas veias.


estamos em 1980, e este é o começo do começo da história de Clara, visto que, daqui a nove anos, esse jovem que agora desce com passos desequilibrados pela rua deserta, vai se tornar seu pai.


mas a importância dessa manhã em especial se dá pelo fato de a apenas alguns metros dali, em uma esquina ao final da rua, um pequeno grupo de jovens garotas estarem esperando o ônibus, alienadas a correria dos outros que se aproximam.


dentre essas garotas, está Janine, trazendo nas costas uma mochila branca, impecável, e no rosto uma expressão de sono, sem saber que o destino dobrava a esquina.


Jonas e os outros três já estavam desacelerando o passo quando um assobio se fez ouvir, vindo do topo da lareira, vindo dos lábios de um guarda, que começava a atirar sua saliente silhueta em direção ao grupo.


os três rapazes voltaram no ato a correria, deixando Jonas pra trás, olhando o guarda que se aproximava.


se sentindo perdido, ele voltou a correr na direção oposta, dobrando a esquina, caminhando de encontro a Janine e a sua mochila impecável que lhe pararam a cinética com um choque violento, fazendo voar rádio livros e insultos.


Jonas se pôs de pé rapidamente, ficando imediatamente vermelho de vergonha, ajudando Janine a se por de pé e juntando apressadamente o material da outra que se contaminava pelo chão de concreto sujo.


se colocando de pé, ele se desculpou com uma mesura, encontrando por um breve momento os olhos da outra, que imediatamente alterou sua expressão de ofensa por um sorriso contido.


o instante foi logo interrompido pelo guarda assobiador que dobrava a esquina, cassetete em mãos, ofegante.


Jonas retribuiu o sorriso de Janine e se deixou fluir rua abaixo, seus passos desajeitados ecoando pelas paredes das casas.


Janine observou sua figura sumir em meio a neblina, um certo rubor nascendo em seu rosto.


naquela noite sonhou com o outro, e semanas depois percebeu estar apaixonada.


daqui a nove anos, ela estara morta.
 

3 comments:

Lucas Alan Pinto said...

gosto de ler seus textos thiagão. vou voltar a fazer isso.
acho que você deveria tentar escrever um livro logo, ao invés de somente os textos. Você escreve bem, daria certo.

Lucas Alan Pinto said...

Porque não um livro de contos?
eu vou ler.

Lucas Alan Pinto said...

quero dizer, eu leria.