fuga

Monday, June 15, 2009
Posted by UD

não é que eu acredite em castigos.


sei muito bem que culpa não existe.

consigo compreender claramente que no momento de seus atos, você apenas fez o melhor que lhe era possível.

entendo que é limitado por sua estrutura, e que seus atos são meros reflexos de uma má formação genética.

mas eu também  o sou,  imperfeito.

e é exatamente por conhecer minhas limitações que tenho plena certeza em meus atos.

sei e aceito o fato de que irei lhe torturar até que o mate.

isso não é problema para mim,  e o farei sem a menor elação emocional ou catártica.

não se trata de vingança, os fatos são mais claros que isso.

compreendo que minha estrutura, minha imperfeição,  exige isso.

nesse momento, isso é o melhor que posso fazer.

seria de praxe dizer-lhe, caso fosse meu cliente, que através do estímulo e desenvolvimento do pensamento racional, um indivíduo pode modificar a sua conduta.

que um indivíduo doente, pode ter condutas saudáveis.

que alguém orgânicamente imperfeito, pode re-trabalhar suas falhas.

se estivesse em meu divã, eu lhe explicaria os inúmeros benefícios a serem obtidos através da repreensão de seus impulsos estruturais.

lhe ensinaria os caminhos para o auto-controle, e gradativamente o faria um sujeito aparentemente "normal",  recheado de charme e boa conduta social.

no entanto bem sabemos que de nada adiantaria, sua estrutura imperfeita, tua essência corrompida, o levaria a fazer o que fez novamente.

e todo meu trabalho, só iria servir para que o fizesse com um sorriso no rosto, para que pudesse frequentar cafés e livrarias, para que pudesse se esconder, fugir.

também poderia dizer, enquanto quebro teus joelhos, que essa sua fuga é na verdade, a base de uma aparente saúde mental.

essa fuga é o esperado de pessoas como nós.

gostaria que entendesse, que não vou lhe ferir por rancor, mas sim por necessidade.

sei-me ciente de escolhas, no entanto não tenho a intenção de utilizar em minha conduta o que profetizo em minhas consultas.

justamente por conhecer minha forma, sei que devo engajar de tempo em tempo em atividades de tal natureza, que de certa forma cumpram o papel de saciar meu organismo defeituoso

no seu caso, eu apenas uno o útil ao agradável, se assim me for permitido dizer.

seus atos me tiraram um ponto de equilíbrio social.

sem minha esposa, sem meus filhos, nada sou além de um solitário, propenso a ser mais facilmente revelado na nefastidão de meus atos.

você me despiu de minha fuga.

portanto, se tu ainda permanecer vivo, seria socialmente exigido de mim, uma postura ativa.

teria de abrir inquéritos, perseguir-lhe publicamente.

produzir lágrimas em telejornais.

não seria prático nem convincente em tais funções.

mas não se iluda, não lhe matarei por razões puramente racionais.

como dito antes, o farei por um simples motivo.

eu quero o seu sangue.

eu preciso dos gritos.



1 comments:

Lucas Alan Pinto said...

Pô Thiagão! Que violênnnnnnnnnncia!
Chocante. Você sabe chocar o leitor.