sobre afeição

Monday, July 28, 2008
Posted by UD


lutava...
traçando linhas parcas contra folhas inexistentes feitas de papel virtual...

buscava o ápice, a imortalidade em páginas velhas, sempre re-visitadas ao longo do tempo, por estranhos que almejava jamais conhecer...

os dedos se movimentavam harmoniosamente, cheios de motivações próprias, como-se cada
letra fosse uma vitória, um caminho claro a ser seguido, uma seta apontando para a eterna re-encarnação em celulose ou até mesmo em compostos magnéticos diversos...
os grandes gênios sussurravam em seu ouvido enquanto suas linhas lhe puxavam para cima novamente, sem lhe deixar respirar, sem jamais dar-lhe um momento do tão necessário sossego...

em sua opaca mente as metáforas já não se aplicavam, uma vez que o mundo real havia se tornado apenas um borrão escuro em meio a dores de cabeça e cheiro de cafeína...
delírios eram frequentes, e ações cobriam a maior parte de suas palavras ditas, fazendo com que funcionalidade tomasse o lugar de sua existência, em prol de um trabalho que julgava ser "maior"...
trancado em seu quarto por 12 dias, sem banho ou contato social, ele enfim o terminou...
sem mais objetivos, percebeu-se re-lendo compulsivamente tua tão almejada obra prima...
apaixonara-se por cada vírgula escrita, por cada estrofe e paragráfos...
remediava suas horas infrutíferas tomando quantidades cavalares de refrigerante de laranja e ingerindo mais e mais seu proprio livro... após 3 semanas, decidiu que jamais o iria compartilhar, mas tampouco conseguiu se livrar de tuas correntes...
tomou sua afeição literalmente, e então se jogou do trigéssimo andar com seu disco rígido fortemente unido a seu peito em um abraço...
desde então, sua foto foi para sempre imortalizada na quinta página do períodico local, encabeçando uma pequena coluna que relatava em poucos detalhes o acontecido...
o conteúdo do disco jamais foi recuperado, fazendo com que as autoridades culpassem o ocorrido a um simples caso de depressão...
o que ninguém explica é a razão do largo sorriso que o morto estampava em seu rosto, no seu diminuto velório, onde compareceram três pessoas...
o coveiro, o morto, e um fiscal do imposto de renda, cujo hobby era fotografar o caixão de conhecidos suícidas...

2 comments:

Anonymous said...

q tosco!

UD said...

pois é...