criador, criatura

Estamos nos dois sentados...
Eu e ele...
Ele, ignorante, sentado em uma sala pequena, talvez fumando um cigarro...
Por enquanto sua existência se limita a três pequenas linhas, digitadas em papel virtual...
Mas ele já vai além, agora está de pé, do meu lado, olhando por sobre meu ombro com um sorriso no rosto...
Ele não sabe que está em pé, muito menos sabe que eu existo...
Eu sei, ele não...
Pra ele a vida ainda não existe além das três linhas, e elas dizem que ele está sentado...
Tenho inveja dele... em três linhas, ele já consegue se sentir completo ...
Se eu não escrever mais nada, sua existência continuará eterna, plena e feliz...
Ele não entende que foi criado em meros 5 minutos, e também não sabe que sua existência é tão limitada...
Eu sei, ele não...
Eu volto a escrever, fazendo surgir dois carros pretos levando homens de ternos pretos com armas na mão...
Homens maus...
Ele ainda continua sentado, em seu sofa furado, sem nem ter idéia do que acontece na porta de sua recém criada casa...
Os carros param e os homens dessem...
Eu sei disso, ele não...
Um forte desejo de acabar com a vida daquele homem aparece em mim... Eu faço os homens de ternos pretos arrombarem a porta da frente e entrarem na casa...
Ele não sabe de onde vem o barulho, nem por que seu cachorro instantâneo começa a latir...
Eu sei, ele não...
Ele finalmente se levanta, mas nada faz...
Eu não o deixo fazer nada....
Os homens de ternos pretos param do outro lado da porta, aguardando as minhas ordens...
Ele sorri, ele não sabe que está prestes a morrer...
Eu sei, ele não...
Re-leio bem esse homem, analisando por que quero tanto matá-lo... Percebo ser por inveja, por mero capricho, por um desejo reprimido de ser igualmente ignorante...
Com dois cliques, apago os homens de preto...
Não escrevo mais nada sobre o Homem, não o deixo saber que quase morreu...
Eu sei, ele não...
Não me deixo saber seu destino...
Não quero saber suas ações...
Ele sabe, eu não...